Reflexões sobre Divertida Mente 2

reflexão sobre o filme divertida mente 2


 [Sem spoilers]


O primeiro filme trouxe uma visão muito tocante e ao mesmo despretensiosa dos nossos sentimentos e como eles fazem parte da nossa construção como pessoa, vivemos numa cultura de felicidade tão imediatista que quando sentimos qualquer outra coisa nos sentimos culpados. O primeiro longa da animação Pixar veio para mostrar que nossas emoções são cíclicas e cada uma delas nos move, não adianta a gente soterrar a tristeza, às vezes temos que simplesmente nos permitir ficar tristes, temos que aceitar que sentimos raiva, que nos frustramos e nos desapontamos, porque quanto mais conhecemos as nossas emoções e seus gatilhos, melhor nos construímos e aprendemos a lidar com elas.

Assim carregando todo o peso dessa mensagem, a sequência de Divertida Mente 2 vem para agregar ainda mais, mostrando com quais outras emoções vamos aprendendo a lidar no decorrer da vida, uma em específico que ultimamente temos falado muito, a ansiedade, essa necessidade que temos de tentar prever tudo que pode dar errado e sofrer por algo que nem sequer aconteceu, atropelamos o presente e saltamos sobre a ilusão de um futuro que não podemos ter certeza de como vai se desenrolar.

O filme mostra muito que um dos alimentos da nossa ansiedade é a sensação de que ela é a nossa única alternativa, que se não traçarmos todos os cenários possíveis na nossa cabeça vamos sofrer, que se não nos quebrarmos no meio para ser tudo não vai ser suficiente e então vamos lá, nos quebramos, e adivinha? Parece que ainda não é suficiente, construímos muros mais altos do que nossas pernas podem alcançar e não conseguimos transpor quando, na verdade, se apenas soubéssemos que se soltássemos as amarras poderíamos voar.

Eu não sei como parar a ansiedade. Talvez seja isso que acontece quando você cresce, você sente menos alegria.

Porque nossa alegria vem misturada com muitos outros sentimentos, somos seres complexos, feitos de camadas, podemos estar felizes e tristes e com raiva ao mesmo tempo, cada sentimento despertado por uma situação diferente e está tudo bem, o problema vem quando tentamos soterrar nossos sentimentos ao invés de tentar entendê-los e descobrir de onde eles vêm.

A maior ansiedade não vem do sentir, mas da tentativa frustrada de não sentir.

Outro ponto muito sensível que o longa aborda, é o momento da crise de ansiedade, aquele em que parece que seu corpo funciona independentemente de você e seu coração decide que quer ser um helicóptero e dá partida dentro de seu peito e em desespero, quer sair, esse momento onde as palavras nem sempre chegam até nós, então o que fazer? Argumentar? Não, outra palavra se encaixa melhor: acolher. Acolher a si, respirar, abraçar-se, encontrar seu centro no meio da bagunça toda, aquele centro que carrega tudo que faz com que você seja quem é.

Divertida Mente 2 com a mesma sensibilidade do primeiro filme mostra de forma paralelamente madura e sensível como o nosso processo de Ser é uma construção composta de diversas emoções e situações, permeadas de ansiedades, momentos de vergonha, de incerteza e tudo mais que nos rodeia e a nossa ação no meio dessa confusão é nos acolher, acalmar nossa ansiedade, agradecer pelos seus alertas que visam nossa proteção, mostrar que estamos bem e ela pode descansar com os pés para cima e tomar um chá.

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