Á Sombra do Jatobá - Uma história que dói ser lembrada, mas não deve ser esquecida...

💜Autora: R.C Maschio

💜Editora: Expressão e Arte.

Um mergulho em uma história que dói ser lembrada, mas não deve ser esquecida. A escrita de Maschio escorre como arte das páginas preenchendo a mente do leitor e lhe ganhando o coração.

Há de se imaginar que é ficção tanta ignorância, e tanta dor causada entre os seres humanos.

Há de se imaginar que não foi verdade, que uma raça de repente se colocou superior a outra, quando todos nós somos feitos da mesma substância.

Há de se chocar com essa realidade histórica que observamos através dos olhares e reflexões de Ercília que na obra a sombra do Jatobá vive o passado que tem consequências até os dias de hoje:

A Escravidão.

-Esta palavra dói aos meus ouvidos.

A narrativa é dívida fisicamente em duas partes Passado - com Ercília uma escrava cuidando das duas filhas de um Coronel -  e Presente histórico - com Ercília sendo cuidada pelas mesmas meninas- mas eu poderia dizer que pra mim ela chegou no futuro, pois a cada palavra lida minha mente saía do Brasil de meados do século XIX para o Brasil de hoje, onde arcamos com as consequências de um passado sombrio. A autora, através de sua maestria na escrita, conseguiu fazer com que a narrativa fosse além das páginas.

Cada personagem da obra tem a sua própria profundidade, mesmo os personagens ocasionais carregam uma vida em si, e através de pensamentos ou diálogos muito bem articulados somos apresentados e iterados a cada um deles. Ercília é o foco principal, como uma flor azul no meio de um jardim de flores coloridas, é mulher, nascida brasileira, escrava cativa , e ama leite, e por meio dos olhos dela vemos a vida na senzala desde a infância até velhice. 

Já Teodora e Candinha são as filhas do Coronel e as protegidas de Ercília. A primeira é forte, tenaz e determinada e junto com com Ercília divide o protagonismo da obra. A segunda é sensível e delicada porém resiliente e possuidora dos próprios valores. 

A mãe das meninas, Amália, também me chamou atenção em especial na segunda metade do livro, quando vi refletido nela a servidão para com os homens/maridos que muitas mulheres têm até hoje, e que quando se dão conta disso, o desespero e desnorteamento são muito parecidos com a cena presente nesta obra. É uma falta de identidade, que quando descoberta deixa essas mulheres em um estado de afogamento onde poucas conseguem chegar à superfície.

À Sombra do Jatobá mostra como era a vida de um Brasil escravista, tanto para os negros quanto para os brancos e esse balanço de pontos de vista contribui muito para a magia do livro. Com uma narrativa protagonizada por duas mulheres nós temos embates contra o domínio patriarcal a exploração e a violência racista encaminhados por uma escrita fluida e envolvente.

Indico esse livro a todos, acredito que todos os leitores tem possibilidade de se conectar com a obra que me fez terminar com lágrimas nos olhos.

Nota: 5,0🌟 + 💜/5,0🌟